terça-feira, 29 de junho de 2010

a fina flor da palavra
a cor em cálice provida
           qual luz aguçada sonoramente
           na oralidade gravada, esculpida
           pela sapiência coletiva, ritualística

           as florescentes gírias,
           os arremedos e toques regionais,
           ideologias

a língua
o étnico
           comunica-se no gesto
           atenta-se aos cantos
           identifica e assim
           argumenta

           só
o ato
o fruto
           na troca semeia
           a terra lavrada a pá

segunda-feira, 28 de junho de 2010

América Latina
aos latino-americanos.

O que fizeram teus deuses?
Enganaram-te?
América, raízes cortadas em espadas de pólvora
Ha! Verdes florestas plantadas de soja e mugidos de bois
Rios de mercúrio, areias, desertos de sal...
Na tua carne brota os sepulcros de milenares indígenas
O grito de Sepé, a arte revolucionária de Sandino, Martí, Mariguela, Juana Azurduy...
Tuas centenas de línguas assassinadas
A cerração cerrada em tuas montanhas de prata arrancadas pelas mãos do filho forçado em miragem de fome
Teus oceanos abertos à sina da bandeira encaveirada
Coberto teu solo por milhões de fantasmas
Teus domínios roubados pelos deuses do teu sonho antecederam tua revolta
Onde estarão teus filhos senão mostrando a face ao verdugo?
Às misérias nascidas do asco europeu e ianque
Teus sambaquis não se renovam...
Tua imagem se revela solitária ao espelho Titicaca
Teus quilombolas sobem morros, e cercados de fúria e medo se sustentam com fuzis apontados para o Mar da Guanabara
Teus camponeses lavram sanhas de fome em sesmarias tomadas por enclaves e solidões de pampa
Levaram teu guano, o salitre, teu cobre, profanaram teu corpo, teu túmulo...
Escravizaram teus filhos
Os nomes da África moldaram nos ferros!
Trouxeram seus corpos e banzos os deixaram ao chicote da loucura
Sonha tua liberdade América!
Nas Chiapas a terra orvalhada em mais um dia!

Dançam com o corpo pintado no Araguaia, no Amazonas quimeram fogueiras, no Putumaio acolhem o doce.
Voa nos olhos do puma ligeiro o aviso, em venenos de flechas o abraço da guerra acolhe invasores
Teus tambores ecoam
A cor antiga da tua liberdade voa nas asas do condor
A marca de uma mão ensanguentada veio a ti oferecendo a morte vestida de batinas e canhões.
Cordilheiras de neve debruçam tua face em teu seio de águas rubras de sangue, negras de mangue, amarelas de ouro, cristalinas de pureza e prata.
Açoites em tua pele coroada de selvas
Andes, Antilhas, Galápagos...
Trópico e geleiras coabitando desertos, caatingas, campos, pedras que se elevam ao cume do Aconcágua
O grito da fauna, o marulhar das águas, as vozes das ruas cheias de sol das tuas metrópoles
O sonho roubado da tua pele carcomida em lamentos
Os meteoros de máquinas a roer o teu seio
Terra do Fogo!
Cavernas de antigos caçadores patagônios, paraíso de gelo e pedras
Árvore que cai aos meus olhos...
Caríssima América!
Te tenho pura em meus braços de amor.

Agosto de 2008.
Odilon Machado de Lourenço.

domingo, 27 de junho de 2010
















“Ou os estudantes se identificam
com o destino do seu povo,
com ele sofrendo a mesma luta,
ou se dissociam do seu povo,
e nesse caso, serão aliados
daqueles que exploram o povo.”
- Florestan Fernandes

sexta-feira, 25 de junho de 2010























"Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
 
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
 
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
 
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c'os demais, que só, sisudo."

- Gregório de Matos

sexta-feira, 18 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Não há saber neutro.
Todo saber tem sua gênese
em relações de poder."
- Michel Foucault