domingo, 17 de fevereiro de 2013

Flor de Corticeira (Porto Alegre)



















Na cidade agora ela vive
tem o céu numa rede de estrelas
em que cingem poucas, algumas difusas
incompletas e confusas constelações da realidade.
Induzem o brilho ora em linhas tortas
articuladas em setas, cruzes e espirais.

Há impressões de fugazes planetas,
objetos voadores não identificados
e de vez em quando ruboriza-se a lua
refletindo da estrela diurna
que à noite encobre-se ao véu de luzes artificiais.

Mas tem o céu como rede de estrelas
na morada onde aportam casais.
Uma índia de águas e ilhas pintada
antiga, antepassados os mares internos,
nascida da marítima orla na penúltima regressão.

Secada ao sol dos marinheiros está erguida a cabeleira
feita riachos e rios que desde a serra
as matas aos cachos sua cabeça encontra
banhados no delta os espelhos da face.

Desce na planície o seu corpo no leito
envolta por campos e restingas, fluida nas rochas os costais
arroios de pelos em toda pele, na fauna a visão e a voz.

Desliza em praias, baías, morros, pontas de pedra e areais
das pernas o Lami, suas curvas até Itapuã
seus pés tocam águas dos Patos.

Na terra em que a índia mora, e verte o horizonte
se corre, muito se mata e morre descalço no morro, na rua
ou do alto a nata urbana do sonho, vive propensa
e dispensa - a humana sociedade se encarrega do cabo - Alegre.
A arquitetura de planos medonhos, chuvas em luta
que o rincão afastado às vezes revela
no Guaíba escondida.

Leonardo Schneider
17.02.2013